A Cirurgia Vascular encanta pela resolução imediata dos sintomas, obtida com a restauração cirúrgica ou endovascular da perfusão sanguínea de órgãos e tecidos. Isso não é possível de ser alcançado com o tratamento clínico convencional nos pacientes portadores de IVC grave, quando o foco é no tratamento cirúrgico da veia safena e suas tributárias e das pérfuro-comunicantes incompetentes. Alguns visionários e pioneiros, como o Dr. Francisco Maffei, Dr. João Sandri, Dr. Milton Bechara, Dr. Francisco Osse, em nosso meio, e os colegas estrangeiros, Dra. Patricia Thorpe, Dr. Anthony Comerota, Dr. Tom MacNamara, Dr. Mark Meissner, Dr. Lazar Greenfield, Dr. Jack Hirsh, Dr. Seshadri Raju, entre outros, começaram a observar a importância da obstrução venosa profunda aguda e crônica e a melhora clínica, muitas vezes, surpreendentemente imediata, com o seu tratamento endovenoso. Nesses anos de pesquisa e foco no tratamento das obstruções venosas ilíacas, acabamos também envolvidos no tratamento de obstruções venosas na fase aguda e crônica de outros territórios. O Tromboembolismo Venoso é extremamente prevalente e é a terceira causa de morte cardiovascular, sendo a Embolia Pulmonar a principal causa evitável de morte em pacientes hospitalizados. A TVP volumosa do segmento ilíaco-femoral pode levar à Síndrome Pós-Trombótica em 30% a 50% dos casos. A técnica de trombectomia venosa, quando utilizada nessa situação, ou na Embolia Pulmonar grave, permite a utilização de cada vez menor volume de agente trombolítico, tornando o procedimento mais seguro e eficaz, e vem apresentando resultados muito promissores em nossa experiência clínica.

Devemos considerar que, apesar de haver melhor entendimento e reconhecimento da gravidade do TEV e do desenvolvimento dos anticoagulantes, a sua incidência continua alta e associada a graves consequências imediatas e tardias. Além disso, o acesso venoso central para a infusão de fármacos, ou para o tratamento hemodialítico temporário ou não, é cada vez mais usado e, com isso, temos presenciado um número cada vez maior de pacientes portadores de obstrução venosa do acesso vascular no sistema cavo superior. A Dor pélvica crônica, que acomete grande número de mulheres, em muitos casos, tem como fator etiológico a Síndrome de Congestão Pélvica provocada por obstruções venosas abdomino-pélvicas. E inúmeros outros sintomas e síndromes vêm sendo associadas à presença dessas obstruções nos mais diversos territórios. É cada vez maior o reconhecimento por parte dos especialistas em doenças vasculares de que a resposta clínica obtida com o tratamento endovascular das obstruções venosas vem apresentando resultados promissores, mas ainda temos muito por fazer. Sua aplicação vem sendo contemplada nos principais guidelines internacionais, entretanto, ainda observamos a existência de discrepância e heterogeneidade no reconhecimento da sua importância e no conhecimento das técnicas diagnósticas e terapêuticas endovenosas e, sobretudo, nos resultados, pois existem poucos centros e grupos de excelência. Ainda hoje, a maioria dos serviços formadores de especialistas e de residência em Cirurgia Vascular e Endovascular possui como foco o treinamento no tratamento endovascular de doenças arteriais. Como os sistemas circulatórios arterial e venoso são, em muitos aspectos, anatômicos, fisiológicos, etiopatogênicos e hemodinâmicos e, até mesmo, antagônicos, o uso de princípios e técnicas de tratamento endovascular arterial pode ser inadequado e inclusive responsável por resultados ruins. No Manual de Diagnóstico e Tratamento Endovenoso procuramos abordar, de forma simples e direta, os principais conceitos diagnósticos e terapêuticos e o passo-a-passo das técnicas de tratamento. Espero que esta obra possa colaborar para o reconhecimento e a disseminação da importância que as obstruções venosas realmente possuem e ajudar nossos colegas especialistas em doenças vasculares a se aprimorar e disseminar a importância do diagnóstico e tratamento dessas obstruções.